28/07/07

D. H. Lawrence

Um excelente exemplo (em dois parágrafos) de má literatura, complacente, instrumental, esperando mais do leitor do que deleite estético:

Sentiu-se de novo invadida por uma onda assustadora da inutilidade cinzenta e fragmentada de todas as coisas. [Virginia Woolf transmitiu esta sensação de forma muito mais certeira centenas de vezes]. Aqueles seres [expressão de um paternalismo insuportável] constituiam a massa industrial [cliché socialista e duplamente paternalista], os outros que ela conhecia, as classes dirigentes, não havia nenhuma esperança... já não havia nenhuma esperança [o tradicional pessimismo pequeno-burguês em que os convertidos se especializam]. E mesmo assim queria um filho, um herdeiro para Wragby! [O ponto de exclamação, claro, o maldito ponto de exclamação].
E Mellors vinha daquilo também. Tinha-se emancipado, como ela, mas dentro dele não havia fraternidade [chavão], tinha morrido. Sim, o sentido de fraternidade tinha morrido dentro dele, só existia isolamento e desespero, em relação a todas as coisas [redundância, exagero estilístico, e por aí fora]. E isto era a Inglaterra, a imensa magnitude de Inglaterra. E ela sabia-o, porque a tinha atravessado desde o centro.

O problema é que as origens de Lawrence não facilitavam o completo entendimento da mentalidade da aristocracia que retrata, e por isso facilmente cai no lugar-comum da burguesa contaminada por ideias socialistas de emancipação feminina e revolta da classe trabalhadora. Virginia Woolf, em "Mrs Dalloway", aproxima-se muito mais deste idealismo derrotado das classes letradas, do seu eterno complexo de culpa mal fermentado. Isto é o conteúdo temático. A forma não é melhor; o exagero romântico aproxima a prosa da literatura de cordel, ou quando muito de uma Jane Austen sem sentido de decoro. As descrições das condições de vida dos mineiros, embora eivadas das melhores intenções, não se aproximam do sentido de emergência trágica de Charles Dickens, por exemplo. Apesar da pretensão realista, aos olhos de um leitor do século XXI a prosa de D. H. Lawrence não passa de um acumular de preocupações ultrapassadas, envoltas num estilo romântico que consegue tornar desfasado o realismo pretendido. A literatura que perdura vive do poder da fábula, do talento do escritor em tornar o particular universal. Pegar em sentimentos, desejos, ideias corriqueiras, de maneira a chegar ao maior número de leitores possível, e transcender a temporalidade de cada vida. Por exemplo, apenas num ensaio, "Um Quarto que Seja Para Si", Virginia Woolf fala explicitamente dos direitos das mulheres, das suas aspirações e desejos. Mas em todas as suas obras de ficção, a principal ideia que passa é essa. Mas ao tornar a demanda feminina um problema existencial, uma busca de liberdade universal, conseguiu fixar a sua obra no tempo - sem falar, claro, dos aspectos estilísticos, a "corrente de consciência", etc.
A literatura não precisa de revoluções para se impor à eternidade. Basta-se a ela própria; na verdade, apenas consegue mudar a sociedade se se conseguir estabelecer por si própria. "1984" é uma obra-prima porque não diz que regime retrata. Apesar das conhecidas ideias socialistas de George Orwell, ele conseguiu resistir à evidência e construiu uma fábula que chama a atenção para os perigos de qualquer ideologia totalitária, seja de direita ou de esquerda. Enquanto continuar a gerar leituras contrárias, será um livro eterno. A literatura auto-suficiente.

(A versão citada de "O Amante de Lady Chatterley" foi publicada na colecção Mil Folhas, do Público, e é uma tradução de Maria Teresa Pinto Pereira.)


[Sérgio Lavos]

27/07/07

Lady Chatterley

O melhor de "Lady Chatterley", de Pascale Ferran, é o modo como consegue superar em quase tudo o romance que adapta. Aquilo que em D. H. Lawrence é moralista quase que desaparece, com a excepção de uma outra referência às condições dos trabalhadores das minas, alusões mais ou menos subtis à diferença de classes entre Constance Chatterley e o guarda-caça, e a afirmação da vontade masculina, paradoxal no contexto dos intentos do romancista, que Parkin (Mellors na versão final do romance) insiste em reafirmar. Na melhor sequência do filme - o passeio nu pelos bosques - a intensa beleza das imagens faz-nos esquecer das questões que tanto interessavam a Lawrence, os "grandes temas". E aquilo com que ficamos é um homem e uma mulher que se amam, e que conseguem usufruir do seu amor numa liberdade absoluta, sem os laços sociais que reprimem a livre expressão do desejo. A expressão de um panteísmo amoroso a que apenas um duro regresso à realidade põe fim. No romance de Lawrence, estas são também as páginas mais conseguidas; apesar das sentenças moralizantes, de um pendor ideológico marcado, a cada parágrafo; apesar do cliché da burguesa entediada que trai o marido com o criado (e a partir de uma premissa semelhante, Evelyn Waugh fez maravilhas em "A Handful of Dust"); apesar da pobreza estilística dos momentos mais descritivos, das confrangedoras descrições dos actos sexuais em que os dois amantes se envolvem.
O silêncio é a grande vantagem do filme de Pascale Ferran. Ao ponto de achar que a voz-off pontual e os entretítulos são redundantes. Quando Ferran cala a voz tagarela de Lawrence, acerta. A direcção de actores é impecável, aproveitando ao máximo a expressividade e o contraste entre Marina Hands, bela, confiante e feminina, e Jean-Louis Coullou'ch, algures entre a dureza do "bom selvagem" de Rousseau e uma fragilidade de animal acossado pelo amor de uma mulher. As comparações com "Intimidade", de Patrice Chéreau, não são despropositadas. Eu, curiosamente, lembrei-me de "O Piano", uma versão alterada, ou pelo menos vagamente inspirada, do romance de D. H. Lawrence - a começar no facto de ambos os actores, Harvey Keitel e Coullou'ch, contrariarem invejavelmente o esteorótipo da beleza masculina. Será coincidência ser também uma mulher, Jane Campion, a realizar este filme?
Sobretudo, este é um belo filme sobre a natureza sexual primitiva do Homem. Sobre o modo como essa natureza actua sobre as paixões humanas. E sobre a dificuldade que é resistir à pressão das convenções sociais que espartilham este desejo essencial de liberdade. Não é pouco.

[Sérgio Lavos]

Battles




Realizado pelo fotógrafo Tim Saccenti, o vídeo para Atlas é uma excelente apresentação dos Battles (Mirrored) cuja organização do espaço interno faz, de algum modo, lembrar as jaulas que centram as figuras nos quadros de Francis Bacon. Tim Saccenti optou por filmar num estúdio de fundo preto, o que faz realçar o espaço caótico da acção permitindo, além do mais, um efeito especial natural: o vidro transparente torna-se espelho reflectindo a banda nas paredes espelhadas. Esta transitoriedade possibilita a montagem de diversas perspetivas do espaço, numa série de refracções acentuadas pelas imagens espelhadas.

[Susana Viegas]

26/07/07

The National

Matt Berninger, compositor e vocalista dos National, escreve como um tipo novo com alma de velho. Amigos e mulheres que passam, pormenores que ficam gravados na memória, arrependimentos, obsessões sentimentais, neuroses de adolescente e vagas fantasias sexuais. Tudo matéria já antes tratada pela música pop. Mas a novidade não está aí. Nem sequer na elegância das referências musicais - Joy Division menos minimalistas, Tindersticks com mais veia rock, Leonard Cohen com um maior sentido de ritmo. As letras de Berninger cruzam referências várias com uma ironia desarmante, contribuindo para uma certa aura de romântico cínico. As metáforas, entre o constrangedor e o surrealista, são o cimento que dá consistência aos episódios de amor desencantado. E depois, há a bateria de Brian Devendorf, que não se limita a estar lá, a acompanhar os outros músicos. Não há grande música sem excelentes músicos - e as letras e a voz eloquente de Berninger não seriam nada sem os ritmos de Devendorf. E o melhor do álbum é que leva o seu tempo a crescer dentro de nós. Como os melhores vinhos. Vintage 2007.

D.J. Irmão Lúcia, ouve este álbum mais do que uma vez seguida. Depois falamos.


[Sérgio Lavos]

Movimento

Não há sangue e mortos na sala de cinema quando saio. A realidade continua a passar fora do ecrã, imune à violência. A vontade que tenho, ao entrar, é de apenas ver um filme. Um filme não salva a vida (nem redime o cinema). O tempo que separa cada filme é necessário para valorizar o que se vê. A espera é fundamental. Há quem consiga que o tempo entre cada filme se estenda; há quem não passe um dia sem as duas horas em que a outra realidade actua. O filme incendeia o escuro da sala e regista algum tempo de vida de pessoas que nunca mais iremos ver. Vida que toca a vida do lado de cá. Imagens fixando o movimento na memória. Memória em movimento.

24/07/07

Stuntman Mike


Pam: Are you sure it's safe?

Stuntman Mike: It's better than safe. It's death proof. [as he drives] Hey, Pam, remember when I said this car was death proof? Well, that wasn't a lie. This car is 100% death proof. Only to get the benefit of it, honey, you really need to be sitting in my seat.

É impossível resistir às falinhas mansas de Stuntman Mike (Kurt Russell), o duplo enlouquecido que tanto seduz miúdas com idade para serem suas filhas como é implacável a exterminá-las. E o sádico ainda consegue chorar com medo...
O filme em si não vem acrescentar muito à filmografia de Tarantino: mantém-se o pastiche, a auto-citação, o malabarismo de géneros cinematográficos e a homenagem a uma história pessoal do cinema. Os diálogos serão inferiores (mas era essa precisamente a ideia!) em relação a outros filmes dele mas a banda sonora e a montagem (poderosa nas sequências do choque e da perseguição de carros) continuam irrepreensíveis. Não compreendo por isso os discursos mais cépticos, um pouco azedos até, que afirmam a decadência da sociedade e o fim do cinema.

[Susana Viegas]

22/07/07

Death Proof

O cartaz é do grande Frank Miller e o filme é do enorme Quentin Tarantino. Ainda voltarei aqui para explicar por que razão é que este é mesmo um filme como já não se faz, e desse modo confirmar que Tarantino é o melhor realizador surgido desde os anos 90 (David Lynch é dos 80). E reflectir (ah!) um pouco sobre os textos dos dois críticos, dois, do Expresso que não gostaram do filme porque o acharam vazio e tal, citando, en passant, a flor na lapela Baudrillard; nada como ensinar o que é a vacuidade usando da prática - insuflar de tal modo a recensão de texto alheio, deixar um rasto de autor francês visível a quilómetros de distância e queixar-se, sem o mínimo gesto de auto-ironia, do excesso de citações do realizador que se critica. Brilhante. Regressarei.

[Sérgio Lavos]

20/07/07

Literatura e fantasma (2)

Curioso é que, actualmente, a maior parte dos escritores fantasma se entretenha a desaparecer nos E.U.A. Esta verdade não indica uma mudança nos hábitos do escritores americanos, nem, sequer a perda de um hábito dos europeus. Não há assim tantos escritores que se tenham dedicado ao silêncio ou ao desparecimento, para espanto de quem os admira. A obsessão de Enrique Vila-Matas, por exemplo, tem muito de inveja mal-disfarçada. Ao auto-retratar-se em "O Mal de Montano", pouco subtilmente, o escritor catalão mostra mais do que admiração por Robert Walser: ele não nega, de resto, que desejava ter a coragem do escritor suiço. Mas será a loucura um acto de coragem?
Mas, a América. Tenho para mim que a razão de, actualmente, os ilustres representantes dessa raça de criadores malditos serem quase todos americanos, se deve a dois factores: o actual predomínio cultural desse país no mundo (basta comparar com o tempo de esplendor intelectual que a França vivia a quando da desistência de Rimbaud); e, mais agudamente, a influência do cinema no imaginário de toda uma geração de criadores. Aliás, o cinema também tem a sua dose de excêntricos reclusos: de Kubrick a Malick, a Francis Ford Copolla (que, reparem não faz um filme para aí há dez anos, e não me apetece googlar esta informação), abundam os exemplos. De outro modo, o cinema tem-se interessado por estas personagens exaustivamente. O escritor que se cala, que escreve um romance e não dá mais notícias ao mundo. Ora, este tipo de interesse apenas pode levar à continuação deste estado de coisas. Enquanto alguém se questionar sobre o paradeiro do escritor silencioso, este continuará na sua, alimentando especulações e sobretudo construindo um mito, contribuindo para o empolamento da sua obra.
Imaginemos um cenário: Thomas Pynchon aparecendo em todo lado a cada livro novo, entrevistas, recensões, idas a programas televisivos, enjoo infernal (pensemos, por exemplo, em António Lobo Antunes multiplicado por mil, o universo americano), Pynchon omnipresente, Harry Potter para as massas intelectuais deste mundo. Quantos de nós não desistiriam de o ler (e não é difícil, tendo em conta o tamanho crescente das suas últimas parições)? Porque o preconceito é um belo sentimento: não lemos porque todos lêem.
Enquanto o cinema americano se interessar por este clube, eles vivem. Para bem da perpetuação dos nossos mitos.

[Sérgio Lavos]

Literatura e fantasma

O mito do escritor recluso não interessa apenas a outros escritores ou a leitores com pretensões de escrita. Compreende-se, de resto, que os primeiros se fascinem com o mecanismo que o acto criativo envolve - sendo o acto de escrita e de publicação na essência uma acto de exposição, o que leva alguns escritores a não se mostrarem, a recusarem algumas etapas do processo de publicação, a entrevista, a sessão de autógrafos, o "aparecer" de maneira a vender o livro? Parece evidente, contudo, que o acto de não aparecer também possa ser uma manobra de marketing - para além de uma extraordinária ego-trip. A criação de uma persona não é um aspecto a menosprezar no escritor. Há alguma criatividade no desaparecimento de J. D. Salinger, e há bastante mistificação no jogo do esconde-esconde de Thomas Pynchon. Mas a coragem também desempenha o seu papel, até porque muitas vezes o escritor sofre de uma insuportável lucidez, que lhe permite vislumbrar a medida da sua importância, não só no conjunto de todos os escritores como, principalmente, no mundo. Um escritor pode ser uma de duas coisas: ou um pavão mediático que quase sempre vale menos do que aquilo que as suas penas apregoam, ou um verdadeiro criador, que pode ou não sujeitar-se ao exercício de existir para além dos livros que escreve. Cormac McCarthy, há bem pouco tempo, emergiu da condição de figura maldita e foi entrevistado por Oprah Winfrey, o que de modo nenhuma desvaloriza o conjunto da sua obra ou em particular o livro que publicitava. Quanto muito, destruiu um pouco o mito: e o mito muitas vezes vale mais do que a obra em si. Paul Auster é outro exemplo recente deste ensaio com o vazio, apesar de ninguém o ter levado a sério: disse numa entrevista que nada mais tinha a dizer ao mundo. Até ao próximo livro (ou filme), acreditamos.
O problema é: a quanto de encenação é que se deve a admiração que um leitor pode ter por um escritor? Desaparecer é sempre aparecer num lugar diferente: quando imaginamos a vida de Salinger depois da sua decisão, estamos a criar uma história nova. Prescindimos de notícias do mundo dos mortos - a nossa história será talvez mais interessante do que qualquer mudança na realidade. Fala-se de mitos por muito menos do que isto.

[Sérgio Lavos]

18/07/07

Luvas de médico

Se outra oportunidade não surgisse, teria de aproveitar a que o Público, na sua encarnação demodé chic P2 (outra maneira de apelidar a bela salada russa que é aquele caderno), decidiu a dar ao livro que mais fez por enriquecer uma senhora australiana que veio directamente da sarjeta (era produtora de televisão) para o programa da Oprah.
(Antes de mais, aproveito para esclarecer que o dito programa era coisa que me passava completamente ao lado, até há dois meses; até Cormac McCarthy começar a ser procurado nas livrarias por donas-de-casa menos que desesperadas e leitoras apaixonadas de livros de Jesus Cristo canalizados pela filha do Raul Solnado. Parece que ele foi lá; e que "A Estrada" se tornou um semi-best seller em Portugal - comprovadamente. O que me surpreendeu não foi o facto de ele ter ido lá - toda a gente precisa de fazer pela vida - mas o facto fantástico da apresentadora ter lido a comovente dedicatória (ao filho) e ter achado que aquilo era livro para convencer os milhões de sub-humanos que se deleitam com os seus conselhos diariamente. O mundo realmente já não é o que era.)
A jornalista dedica-se no artigo a dissecar as razões do êxito de tal produto, com a dose certa de cinismo e vontade jornalística de fazer um trabalho decente. O que azucrina estas profissionais não são os milhões de pessoas que decidem gastar alguns euros no livro; nem sequer o pudor derrotado por ter de obedecer ao chefe de redacção; o que realmente chateia esta gente é o facto daquela coisa ser um livro. Ouviram (?) bem: "O Segredo" é um livro, e isso chateia. Chateia, porque se pode encontrar nos mesnos locais onde se encontra a "Odisseia" ou "O Anti-Cristo" ou até quem sabe as "Elegias" de Holderlin. Pois é, é assim mesmo. Não há zonas desnuclearizadas neste belo Paraíso consumista onde vivemos. Um livro é um livro é um livro: um conjunto de páginas responsáveis pelo abate de mais algumas árvores da floresta amazónica, alguma tinta (nada biodegradável) e cola. Nada mais que isto. É que, na verdade, tudo é um produto, tudo se vende e se compra. Se alguém esperto decide facturar uns milhões à custa da ignorância de alguns milhões, qual é o problema? A questão: nada é de graça. Não vale a pena rebater, recorrendo ao sarcasmo, tal fenómeno. Queremos livrarias assépticas, desinfestadas de tal praga editorial? Deixem de considerar o lucro como objectivo máximo do negócio - paradoxo a que apenas homens como Vítor Silva Tavares, editor da &etc, se podem dar ao luxo de prender.
Na verdade, ninguém liga ao assunto. As pessoas continuam a comprar, com mais ou menos vergonha, à socapa, o livrinho da Rhonda Byrne. Continuam a achar que, aceitando banha da cobra, poderão enriquecer alguém mais para além de todos os que já lucraram com a comercialização do livro (e são bastantes). Nem se apercebem, no caso de serem habituais do tema, que têm as prateleiras cheias lá em casa com livros do Dale Carnegie ou do Trevisan ou da vizinha do 5º esquerdo que começou a ver Deus na sanita e decidiu escrever um livro sobre o caso, livros esses que repetem exactamente as mesmas coisas que o livro que acabaram de comprar diz. Não é importante. Compram o livro como se comprassem um par de chinelas. E é tudo.

[Sérgio Lavos]

17/07/07

Edit!

Collier Schorr

Matthew Barney

João Tabarra

Douglas Gordon

Até 9 de Setembro pode ser vista no CAV- Centro de Artes Visuais em Coimbra (entrada gratuita) a segunda parte da exposição EDIT! Fotografia e Filme na Colecção Ellipse.

[Susana Viegas]

David Fonseca




Superstars, o novo vídeo de David Fonseca (realizado pelo próprio) é o primeiro single a antecipar o novo álbum a sair no Outono próximo. Denunciando um ambiente bastante singular (com alguma aproximação ao mundo fantasioso e infantil de Michel Gondry), tem alguns elementos dos quais gosto bastante: as referências a Dracula, The 39 steps ou Close up * leia-se Blow-up não deixam esconder o interesse cinéfilo do David (que na verdade diz que gostava de ser fotógrafo); o verde escaravelho do vestido; o fundo luminoso tipo The Killers; o assobio.

[Susana Viegas]

Videografias 13


A década da britpop terá deixado saudades a poucos. Ninguém quer saber dos Oasis, nem dos Blur, muito menos de bandas tão pouco perenes como Bluetones, Echobelly ou Shed Seven. Mas eu estava lá, no lado errado do canal, curtindo a falta de estilo à distância do resto do pessoal, grungers, alternativos e afins. Agora, a navegação de cabotagem (ou de cabotino) a que me dediquei durante anos é apenas uma memória que passa de vez em quando no VH1, à hora do Flipside. Mas há bandas que resistem, e não falo dos superlativos Radiohead, que apenas usaram a vaga brit como trampolim para mais altos voos. Pois é, Jarvis Cocker é mais do que um super-herói de cinco minutos, furioso raio irrompendo pelo palco dos brit awards dentro, correndo atrás das criancinhas que, fervorosamente, faziam backing vocals para o alienígena Michael Jackson. Ficou no meu coração, pois claro, um feito como aquele apenas podia vir de alguém com uma coragem de soldado americano no Iraque ou, em alternativa, com uns bons copos em cima. É claro que uma imagem destas deixa uma impressão duradoura; por isso é que este Jarvis a solo não me convence. Enfim, o envelhecimento é uma coisa tramada - não chega o viagra, ainda temos de levar com uma irreprimível tendência para a balada xaroposa e a canção de protesto, tudo em doses repartidas e misturadas na mesma música. Para mim, tudo se perdoa a Jarvis. Alguém que escreveu esse hino do engate classe baixa que é "Babies", ou dedicou mais do que 5 minutos da sua vida a compor "Little Girl (With Blue Eyes)", bela elegia às agruras de uma adolescente que tem mais do que o coração para oferecer, merece mais do que consideração: admiração e um texto que se dedique à hermenêutica de um marco da canção kitsh do século XX: Disco 2000.
O vídeo é um mimo. A cartolina usada para o corta e cola dos membros da banda, um sentido de ridículo demasiado acentuado, a citação kitsh que começa nos Abba e acaba num clube qualquer às tantas da madrugada, uma mão no soutien e outra a sentir a qualidade do tecido da cueca, a dança estilo-chunga na pista com bola de espelhos, nada (ou tudo) está fora do sítio. E a letra de Cocker, que dizer? "You're the first girl of the school to have breasts/Martyn said that yours were the best/The boys all loved but I was a mess/I had to watch them trying get you undressed". Estes versos podem figurar certamente no panteão das melhores letras de sempre da música pop, lado a lado com um "Like a rolling stone", de Dylan ou "Hallelujah", de Leonard Cohen. Interessante é também a história paralela que se conta no clip, diferente da narrativa da letra. O elogio da working class - a saída às 6 da tarde da lavandaria, sexta à noite, a ânsia pelo fim-de-semana, a Deborah de pexisbeque; o rapaz com um estilo mod a cortar o cabelo, ela com o Jarvis atrás (I hope my breath won't stink), a auto-paródia pulpiana, o metro feito de papel de lustro, a revista Face com Jarvis, o rapaz sósia de Jarvis ouvindo os discos dos Pulp, a doença dos 90 - anorexia -, as comoventes cenas de intimidade doméstica, etc., etc., até ao grand finale, com cigarro e tudo, posters na cama e figuras de papel numa grande canção sobre os anos da adolescência - e, já agora, sobre os 90.
Sete anos depois de 2000, onde andamos nós, antigas personagens de uma música dos Pulp?

(O vídeo foi realizado por Pedro Romhanyi)


[Sérgio Lavos]

14/07/07

3-3

É uma reacção normal, ou apenas o ciclo natural deste assunto, pelo menos desde o século XIX; depois de alguns anos em que a religião foi o tema mais importante, regressamos ao ateísmo. Dir-se-ia que o assunto é o mesmo. Ideia errada. Ateu não é antónimo de religioso, assim como crente não é o contrário de ateu. Eu, como produto do ateísmo, me confesso: creio na não-existência de Deus. Já senti mais vontade de abandonar esta fronteira - crer em deus simplificar-me-ia a vida. Mas também já ensaiei a minha dança como o niilismo ateu. Contudo, acredito firmemente em algo: nenhum dogma perdura. Nem Deus nem falta a dele, deste modo.
De qualquer maneira, Deus ri nas minhas costas. Eu estou aqui a escrever esta oratória das coisas perdidas e ele sabe que levará a melhor no final (caso exista). Se não existir, também não será por isso que resistirei ao poder das minhas palavras. O problema é a sua omnisciência. Nenhuma blasfémia ficará sem castigo. Se peco contra deus, arrisco o Inferno. Se peco contra a Razão, e acredito, aproximo-me do inferno em vida. Há quem seja mais sensato, claro. Quem não questiona, quem não duvida, quem piamente se dedica a uma causa - e não falo do comunismo. Mas, por qualquer defeito de fabrico, eu duvido. Desde a adolescência, essa idade maldita, que duvido. Horas e horas de insónia, revirando-me no escuro da minha pobre condição humana. (Há muito de invenção poética nesta imagem; era pior no Verão, quando as melgas se juntavam a Deus no meu martírio).
Mas se defendo alguma coisa em abstracto, é a tradição dos rituais religiosos. Não me sinto confortável sabendo que há gente, a esta hora, caindo de joelhos, convulsivamente, a ser curada de uma qualquer doença fatal. A ideia de que um qualquer iluminado poderá, apenas com a força de um gesto sobre o rosto, apagar qualquer inevitabilidade da vida, deixa-me pouco menos que perplexo. Se um milagre é algo potencialmente acessível a qualquer um de nós, onde se esconde Deus? Um dos melhores episódios de House é aquele em que ele perde com Deus* (3-2, salvo erro, é o resultado). Um adolescente com delírios místicos entra no hospital doente. House aposta a sua crença na razão científica contra a vontade de Deus. No fim, descobre-se que o rapaz peca de modos pouco menos do que ímpios - não há poder inspirado por Deus que resista ao desejo humano, esse diabo de muitas caras; e Onan não é apenas um exemplo a não seguir.
A vontade humana não é coisa fácil de domesticar. Talvez a razão de não entender muito bem os misteriosos poderes da Fé. Agrilhoar-se a uma incerteza parece-me tão insensato como negar de forma definitiva essa mesma incerteza. (E Deus acena a cabeça em concordância comigo). O meu ateísmo suave permite, no entanto, que concorde com uma ou duas coisas: uma delas, na ordem do dia, é a missa em latim. Manter as massas na ignorância? Não, não entenderam nada. Tornar a religião humana, atribuindo-lhe a qualidade mais humana de todas: a capacidade de maravilhar, deliciar esteticamente. E Bento XVI, intelectual distante do paganismo inerente à religião católica, percebeu o que está em causa. Apenas a Razão pode estabelecer o catolicismo, e a Razão nasce da contemplação do mundo: o ritual, a envolvência, o confronto com o inefável. Nós, pobres ateus, nem sabemos o que perdemos.

*House empata no final, de acordo com um leitor. Devo ter adormecido a meio do encontro.

[Sérgio Lavos]

12/07/07

Cansei do Inverno

Durante muitos anos, não fui à praia.
Ir à praia. A ideia não é igual para todos. Há quem vá para estar horas a fio na areia, outros preferem o mar, outros a esplanada em frente e uma cerveja que nunca desaparece. Durante muitos anos, nenhuma destas versões me atraía. Reconheço algumas expressões de desprezo, aí no meio da multidão (reduzida, que estamos em tempo de férias) - tenho a sensação de que a maior parte dos que param para ler o que se escreve neste blogue não se reconhece no que vou dizer a seguir; ou reconhecem-se demasiado. De qualquer das maneiras, a reacção pode ser desagradável. Como sentir os grãos de areia a esvoaçar em dia ventoso. Ou acordar com a pele queimada de um lado, depois de uma sesta que julgávamos retemperadora. Ou levar com uma bola de miúdo. Ou ouvir as conversas do vizinho - aí, lamento, mas isso nem sempre é mau. Quem não gosta de escutar uma boa história de faca e alguidar, que se retire em silêncio deste tugúrio.
A questão é: há um tempo na vida em que gostar de praia menoriza; em que se torna foleiro gostar de praia. A ideia é esta: férias, férias grandes depois do período de aulas; sol, mar, o sabor do sal na pele: tudo miragens. Há um tempo na vida em que ter estilo é ficar enfiado em casa, papando livro atrás de livro (o sol lá fora), esquivando-se a qualquer contacto com outros humanos (calor, luz intensa lá fora), inferiores que se expõem aos raios violeta que nem lagartos dependurados de muros em ruínas. O Inverno pode ser um estado de espírito. Ninguém ouviu dizer que Kafka gostasse de praia - apesar do livro de Murakami. Nem Nietzsche. Nem sequer Rimbaud ou Baudelaire. A soturnidade é uma forma de vida - meio mais rápido de atingir o êxtase da sabedoria. Ler livros na praia? Uma contradição insanável. Nenhuma frase de Beckett resiste ao horizonte marítimo. Depois, existe o problema da educação, para quem gosta de se julgar um dandy perdido no tempo. O cavalheiro inglês não se apanha na praia, nem que use um daqueles fatos de banho do início do século passado. Alguém imagina Oscar Wilde de bermudas? (OK, eu talvez imagine, mas isso não é coisa para revelar aqui - estraga a pintura). E para metade da blogosfera, estas coisas realmente importam. Pensar em Evelyn Waugh torrando ao sol da Caparica não é um pesadelo bom. Apenas se concebe o intelectual brasileiro - e ele existe - passeando em Copacabana, a espreitar a bunda da classe baixa. Ou nem isso, há quem viva em São Paulo. E em São Paulo pode ser normal ser branquela - veja-se o caso dos Cansei de Ser Sexy. Mas distancio-me da questão.
Eu também fui assim. E há quem ainda seja, bastante entrado na idade. Há quem morra assim, sem sentir os prazeres de um banho de horas; sem usufruir da onda de melanina que a absorção dos raios solares provoca, aquela vaga sensação de euforia que se segue a um dia de praia; sem poder se dar ao luxo de olhar mais do que demoradamente para o topless da modelo em frente, entre um cochilo e outro. Esqueçam os contras, e sobretudo esqueçam o estilo - um homem em pleno verão não precisa de estilo nem de verdade; é-lhe suficiente o leve torpor de um dia luminoso, belo e esquecido de si mesmo.

[Sérgio Lavos]

A missa


No número de Junho da revista Wire, o escritor Michael Faber resume a situação; falando do melhor concerto da sua vida, menciona um de Nico e outro dos Birthday Party. Mas a sua epifania deu-se ao assistir a uma improvisação numa cidade a norte de Budapeste. O concerto aconteceu por acaso. Faber viu-se arrastado por uma multidão na rua, convidados e músicos e respectivos instrumentos, em direcção a uma cave esconsa onde mal cabia toda a gente. A banda chamava-se (ainda existem) After Crying. Tocavam rock progressivo com instrumentos tradicionais de música clássica - piano, violencelo, flauta. Como diz um dos músicos a Faber: "We´ve suckled at the breast of Robert Fripp". No final, o pianista começa a tocar acompanhado da filha, em sessão de improvisação. Nas palavras de Faber: "It was one of the loveliest things I've seen or heard. I thought to myself: "This is real. This is happening right now, right here, and it will not happen again. No one outside this room will ever care about it. It will never attain mythic status. It will never be written about in Q or Wire. And this is the fate of 99.99 per cent of all marvellous, music that has ever been made and that ever will be made. And it's OK."
Quando uma banda tem plena consciência do seu lugar no mundo, perde a sua essência. O que aconteceu aos Arcade Fire no Super Bock Super Rock poderia ser isto. Lembro a primeira versão deste festival. Quando vi, pela primeira e única vez, os Morphine ao vivo. Alguém os ouve, ainda? Nem por sombras. São apenas uma memória para os milhares que ficaram deslumbrados com esse concerto - distante das dezenas que viram os After Crying naquele dia, mas a ideia é a mesma. Creio que os sortudos que viram os Arcade Fire em Paredes de Coura devem ter sentido na pele isto - um arrepio irrepetível. Por isso, extasiaram ao som da missa que os músicos canadianos deram na semana passada. Eu não estive lá da primeira vez. Não me converti. Nenhuma Nico pode bater em sentimento uma improvisação entre pai e filha.

[Sérgio Lavos]

08/07/07

Os últimos 5 livros

Rita, parece que uma convivência de 40 horas semanais, almoços diários e por vezes feriados e fins-de-semana, não são suficientes para pôr a conversa em dia mas ficas desde já avisada que não me deves oferecer neste Natal os seguintes livros porque já os li:

- O grande Gatsby de F.Scott Fitzgerald;
- Madame Bovary de Gustav Flaubert;
- Os filmes da minha vida 2º volume de João Bénard da Costa;
- Hilda de Marie Ndiaye;
- Na praia de Chesil de Ian McEwan.

Passo a palavra ao Armando e aos Verdetes que quiserem participar no desafio.

[Susana Viegas]

07/07/07

Aniversário

Por lapso ou vontade involuntária, na entrada mais abaixo, "Uma verdade", não referi o tema que tratava. Ao reler o texto, nem eu próprio sei se pretendia mesmo escrever sobre o que tinha inicialmente em mente: o meu aniversário. É verdade que nasci há 32 anos, aqui há uns dias, mas a importância do acontecimento é tão reduzida que nem para assunto de post serviu. A única razão para assinalar a data é ter esquecido o poema de Fernando Pessoa ("No tempo em que festejavam os meus anos/Eu era feliz e ninguém estava morto"). Esqueci-o e escrevi o rascunho com aniversário em fundo. Uma cedência ao lugar-comum da melancolia, admito, mas as razões que lhe estão associadas perdoam a falha.
Ninguém comemora aniversários. Uns bebem até esquecer que a data vai passando. Outros esquecem antes de beber e vivem como no poema de Mário de Sá-Carneiro ("Quando eu morrer batam em latas"). Mas sinceramente, ninguém pode, de maneira séria, celebrar a passagem do tempo. O nascimento, claro. Dou de barato esse pormenor relacionado. Não somos responsáveis pela nossa vinda ao mundo - porquê então lembrar anualmente o facto? Sem falar da perfeita aleatoriedade dos marcos temporais. Vivíamos melhor sem calendário? Viveríamos mais descansados, sem a pressão de cada aniversário. O assunto acaba por ser um pouco repugnante - lembra sempre os que escondem os anos que passaram, aqueles que queremos manter a uma distância sanitária.
Não gritar, não soprar velas, não partir o bolo. Dispenso tudo isso; mas, por favor, continuem-me a presentear com a vida material a que também tenho direito - objectos a que eu possa prender o meu afecto, tendo a certeza que nenhuma retribuição lhes é devida; o único tipo possível de amor desinteressado. Continuarei a esquecer aniversários (quem me conhece sabe que é assim). O meu próprio aniversário, espero um dia esquecê-lo. Não existe maior felicidade do que viver fora do tempo.

[Sérgio Lavos]

06/07/07

Bloc Party

Entre uns sobrevalorizados Arcade Fire, já muito conscientes do seu próprio carisma - o que faz toda a diferença em relação ao concerto em Paredes de Coura - e uns Bloc Party humildes e com a consciência pesada pela relativa desilusão do segundo álbum, a minha escolha foi feita. Em homenagem à melhor banda do meu Super Bock Super Rock, fica a tocar na barra da direita a faixa "So Here we Are", que é simplesmente brilhante. Também por ser um ovni em "Silent Alarm", crescendo de guitarras shoegazers, sintetizador atmosférico e bateria breakbeat, criando um som a que uns My Bloody Valentine, por exemplo, não são alheios. Para ouvir em longas viagens de comboio.

[Sérgio Lavos]

Uma verdade

Já me tinha contado pelo telefone. Uma árvore, plantada quando teria uns oito ou nove anos, caíra de um momento para o outro, carregada de frutos em pleno tempo de maturação. O velho damasqueiro acabara derrubado por mais do que o vento forte que se levantara durante a noite; os escolhos do dia que se seguiu evidenciavam a verdadeira razão do fim: o tronco e os ramos mais fortes tinham sido carcomidos como se de madeira colhida, de um móvel, se tratasse. Sobre a terra, um caos de folhas verdes e murchas e damascos amarelos e mirrados, para sempre impossibilitados de amadurecer.
Não acredito em símbolos, nem em histórias de milagrosas coincidências. Acreditava no sabor do fruto quando o verão atingia o seu auge; um mel ácido, um gosto que dançava na boca como vento. Não há fruto que defina melhor o verão. A sua cor amarela que se transforma em laranja quando amadurece mimetiza os dias que se estendem sobre a noite - sonhei muitas vezes com o nórdico sol da meia-noite; às dez horas um lençol fino de luz velada ainda espreitava por cima da linha da horizonte - e utilizo o presente sabendo que pode não ser já assim. Entre mudanças de horário e adaptações ao ritmo da vida moderna, perdeu-se o fulgor de uma tarde de verão interminável - como um damasco.
A lâmina da moto-serra despedaçou tronco e braços; quando cheguei, o damasqueiro era apenas um amontoado disperso de madeira morta. Os frutos apodrecidos pelo chão. O meu pai contou-me tudo com tristeza no olhar.
Não há verdade na natureza. Apenas ciclos e estações, sequências. Nenhuma consequência. Mas, recordo agora, longe da árvore derrotada pelo tempo, o modo como a seiva nascia dos rebentos novos. Um âmbar dourado que percorria o sulco da casca até ao solo. Empoleirado lá em cima, eu via os aviões descreverem trajectórias sem princípio nem fim. Nada me cercava. Desconhecia em pleno o que era a liberdade. Vivia.

[Sérgio Lavos]

05/07/07

Meme assim

Não se julga um livro pela capa. Não se julgue um blogger pelo livro. Remeto o que sou para aquilo de que gosto. Portanto, Rita e Carlos, desconheçam-me um pouco mais, desta maneira:

- Na Praia de Chesil, Ian McEwan, Gradiva
- Avenida Paulista, João Pereira Coutinho, Quasi
- A Salvação de Wang-Fô e outros contos orientais, Marguerite Yourcenar, D. Quixote
- The Penguin Book of Modern British Short Stories, ed. Malcolm Bradbury, Penguin
- Casei Com Um Comunista, Philip Roth, D. Quixote

A cadeia a que eu gostava de dar seguimento não é esta. O que eu gostava mesmo era de falar dos últimos 5 livros que eu gostava de ter lido no caso de um dos meus autores preferidos o ter escrito. Por exemplo: um fresco escrito sobre as invasões francesas escrito por Dostoievski. Um romance de Kafka que tivesse um final que redimisse a culpa de todas as personagens. Um conto de Borges que não desembocasse na circularidade total - que fizesse sentido fora dele mesmo. Um novo romance de J. D. Salinger sobre os seus anos de aprendizagem da reclusão e do silêncio - enquanto escrevia obras assinando T. Pynchon. Um novo livro de contos de Herberto Helder - novos em estilo, influenciados pela crueza de Raymond Carver e Brett Easton Ellis, que imitassem a vida como ela nunca foi.

Passo a palavra a Baptista-Bastos, a Alexandra Solnado (e a Jesus Cristo, se pudesse ser), a Christopher Hitchens, ao André e ao "Rogério".

P.S.: Escrevi este texto ontem. Entretanto, reconheci a ideia, e não é minha. O irmaolucia pensou (antes de mim) em algo semelhante - mas com desenhos. O plágio é uma coisa desgraçada.


[Sérgio Lavos]

03/07/07

Rebellion (Lies)


Primeiro vídeo para os Arcade Fire (e realizado por Chris Grismer em 2005), Rebellion (Lies).

Parabéns Sérgio

[Susana Viegas]